sexta-feira, 13 de junho de 2008

Por que razão a práxis liberal não fincou raízes no processo de constituição do Brasil moderno, urbano e industrial? (especialmente para Lidiana)

A modernização liberal no Brasil aconteceu através de uma política de mudança economicamente orientada. A transição do Brasil para o liberalismo foi feita de forma autoritária e reformista, não levando em conta o atraso do país no que seria a essência do liberalismo clássico, pois a principal preocupação do Estado era a de alcançar os países desenvolvidos, mesmo que esse “vôo pelo desenvolvimento” não fizesse parte da realidade brasileira. A liberdade social constituída no papel como um ato jurídico não se constitui sem que aja acesso a terra e à cidadania. A tentativa de salto do país atrasado para uma economia pós-capitalista foi o caminho percorrido para tentar chegar a uma realidade falsa, idealizada pela elite intelectual.
A preocupação da elite em continuar a ocupar o espaço na classe dominante no Brasil era constante, motivo que levou a classe a impulsionar a construção do Brasil moderno liberal. Uma oligarquia interessada em continuar controlando, medindo e regulando a sociedade, protegendo seus valores tradicionalistas.
Não houve a mudança social necessária para uma reorganizar a sociedade brasileira para se adequar ao liberalismo. A revolução passiva no Brasil conviveu com o escravismo e o Estado adiou a reforma social para usá-la a favor da modernização, pois o atraso colabora com os interesses da elite através dos valores colonialistas e do trabalho baseado na relação escravista. O conservadorismo e a modernização seguiam de mãos em favor de manter tudo em seu “devido lugar”.
A ideologia liberal era o discurso que justificava a nova constituição de papel, constituída por um governo central e autoritário, à sombra da ideologia liberal de uma pequena elite. Os intelectuais representavam a elite que precisava “salvar a nação”, trazendo seus modelos de progresso desconexos à realidade do país. Nessa atmosfera nasce a sociologia, a fim de orientar a elite à “inventar uma nação”. O pensamento político brasileiro buscava progresso e prestígio através da industrialização, do nacionalismo e do autoritarismo. Porém era deixado para trás a formação do cidadão que existia como se não pertencesse ao mesmo país da elite cujo, os olhos estavam sempre nos acontecimentos da Europa, e como se existissem dois “Brasis” diferentes – o da elite e o do povo.
Continuava o pensamento oligárquico da política brasileira e o povo não participava das mudanças que partiam do alto e para o alto, e sim padecia com as conseqüências acarretadas pela despreocupação das classes dominantes em incluir o povo na participação das mudanças do país. Desta forma as classes altas continuaram no poder e o liberalismo foi conciliado com a realidade patrimônialista burocrática, gerando classes subalternas domesticadas no clientelismo.
Segundo Raymundo Faoro*, “todos os países que sofreram modernização expulsaram para que o desenvolvimento se irradiasse ao povo, a elite, a classe dirigente, a burocracia coletivista”. Porém no Brasil a modernidade emerge de mãos dadas com as autocracias não sendo capaz de se desenvolver com movimentos próprios. Certamente o liberalismo não se estabeleceu no Brasil por ser uma sociedade antiliberal, com uma estrutura social atrasada. O Brasil moderno foi constituído em conseqüência de fatos históricos que pediam a modernização do Brasil, porém a criação do estado nacional tinha como base o trabalho escravo e a segregação cultural dos pobres. Desta forma a não formação dos cidadãos para a modernização é decorrente do descaso das classes dominantes para com as classes exploradas fato que tem claramente causas de origem colonial e escravista, uma vez que os trabalhadores eram vistos praticamente como “seres exóticos”.
O industrialismo não trouxe o liberalismo econômico. Ele foi gerado no Brasil em meio à decisão autoritária do Estado. Não por meio da cidadania, caminho não percorrido pelo Brasil, fato que provavelmente resultou em não se enraizar a práxis liberal do Brasil moderno.

Um comentário:

Lila disse...

' nessa sinistia, continuo acreditando verdadeiramente que existem dois 'Brasis'. Essa manipulação e divisão tendem a continuar. O problema maior ou a causa disso tudo é que esse modernismo todo não está em prol de toda a população. E estes atrasos tendem a atrasar-se cada vez mais enquanto o 'povo' não mudar o modo de educar'

Cris, parabéns pelas idéias e conceitos! Beijos!

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